Transfiguração do Senhor: Glória e Cruz andam juntas

Neste sábado celebramos a Transfiguração do Senhor, festa esta que nos recorda da missão messiânica de Jesus e sobretudo da sua vinda gloriosa. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a passagem da Transfiguração de Cristo no Monte Tabor é um “antegozo do Reino”, isto é, as vestes e o rosto de Jesus tornam-se luz, Cristo mostra as suas três testemunhas (Pedro, João e Tiago) a sua verdadeira face divina, e ao seu lado acompanham Moises, simbolizando a Lei, e Elias simbolizando os profetas, concluindo de que tanto a lei quanto os profetas falam de Cristo.

O mesmo CIC em seu parágrafo 554° diz que a Transfiguração acontece logo após Pedro confessar que Jesus é o Filho do Deus vivo (Mt 16, 21), ou seja, que ele é o Messias. Depois, Pedro não entende as falas do Mestre, que diz aos seus discípulos que terá que ir a Jerusalém ser maltrado pelos chefes e doutores da lei, ser rejeitado e morto, mas que ressucitaria ao terceiro dia. Pedro repreende Jesus. Porém, na Transfiguração, Jesus mostra a Pedro, João e Tiago que só é possível alcançar a Glória se antes passar pela Cruz.

São João Damasceno (675 d.C – 749 d.C), grande doutor da Igreja, responde a pergunta o porquê Jesus ter chamado apenas Pedro, João e Tiago para ser suas testemunhas no Monte Tabor: “Mas por que não foram chamados todos para esta visão, mas apenas alguns? Um só, afinal, era indigno da visão da divindade, a saber Judas, conforme aquela passagem: Retira-se o ímpio, para que não veja a glória de Deus (Is 26,10). Se Nosso Senhor tivesse excetuado apenas ele, a inveja teria incitado aquele homem mau a uma maldade ainda maior. Por isso, tirou ao traidor uma ocasião de traição ao deixar ao pé do monte todos os demais apóstolos. Porém, tomou consigo três, para que sua palavra se alicerçasse em duas ou três testemunhas. Chamou Pedro para mostrar-lhe que a declaração que ele fizera da divindade de Cristo era confirmada pelo próprio Pai, e porque ele haveria de se tornar o chefe de toda a Igreja. Chamou Tiago porque haveria de morrer por Cristo antes de todos os discípulos. Chamou João, que era o instrumento mais puro da teologia, para que, tendo visto a glória do Filho, que não está sujeita ao tempo, soasse as palavras: No príncipio existia o Verbo”.

A Santíssima Trindade também se apresenta nesta passagem como que para confirmar ainda mais aos discípulos o que Jesus já havia ensinado. Deus Pai ordena aos discípulos que ouçam Jesus, pois Ele é o seu Filho, o Eleito; Deus Espírito Santo aparece simbolizado na Nuvem que cobre os apóstolos. São Tomás de Aquino em sua Suma Teológica fala também da presença da Santíssima Trindade no Monte Tabor: “A Trindade Inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no Homem; o Espírito, na nuvem clara”.

“Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai”. (Trecho tirado do texto da liturgia bizantina na Festa da Transfiguração). Ainda São João Damasceno dá uma ideia clara sobre a natureza da Transfiguração do Senhor, dizendo que uma só é a glória do Verbo e da carne de Jesus, graças a união hipóstatica que une suas naturezas (divina e humana), “a transfiguração do Senhor não usurpa algo que Ele não era, mas manifesta aos discípulos o que Ele era”.

É essa glória na montanha que remete também a segunda vinda de Jesus, resplandecente, vitorioso. Porém, ela só será alcançada, como já dito acima, após passarmos pela Cruz. Nosso Senhor quer nos ensinar que não existe glória sem sacríficio, alegria sem renúncia e amor sem entrega de si mesmo. “Ou ainda, a Transfiguração serviu para nos demonstrar o que dissera, que quem perder a sua vida por causa de Deus a salvará, porque receberá na sua ressurreição as promessas de Cristo”, diz por fim Santo Ambrósio.

 

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